domingo, 19 de fevereiro de 2017

Cada louco com sua loucura!! rs


Parte 4

Lystvianka / Lago Baikal
 
Cheguei nele. Vim de van, de carona, passando aperto e com medo de morrer. Motorista louco: quando de carona geralmente a gente não reclama, mas e se eu quisesse reclamar? De novo eu estava incomunicável, e eu rezei depois de anos e anos pra chegar.

Guimarães Rosa dizia que viver é negócio perigoso. Aqui é mais. E toda cagada tem um início, e essa se iniciou pelo fato de ter encontrado no ponto de carona em Irkutsky um eslovaco chamado Pedro. Ele fala 5 línguas, e um pouco de russo. Ótimo. E ele deu a ideia de pararmos no meio do caminho, antes do lago, no meio da floresta de Taiga, para conhecermos uma civilização siberiana que vive em casas de madeira há 200 anos, como se fosse um forte medieval, chamada de TALTSY, incrível, e eu já tinha ouvido falar, mas só acessível para não sei quem - talvez quem fale russo, e peça pro motorista da van parar perto da porteira na beira da rodovia. Então, depois de 50 minutos de viagem, o motorista da van lotada parou, e o Pedro falou apressado pra mim, vamos, é aqui, você não vem? 
 
E então eu disse pra ele: - É aqui mesmo? E ele me confirmou; Aí eu falei sim!!! O problema foi o seguinte, a van tinha umas cortinas bloqueando a visão das janelas, e eu não havia aberto a cortina para não acordar as pessoas dormindo e por isso eu não sabia a situação do lugar que me encontrava. Pronto, cagada feita, desci da van, e ela foi pro LAGO. 


Primeira coisa que me veio na cabeça foi minha mãe, que dizia quando criança pra não pegar carona com estranhos, não aceitar bala dos outros e não descer antes do destino final, pois me lembrei naquele segundo que pisei fora da van quando ia de ônibus pra BH sozinho e ela me dizia pra não descer antes em Carmópolis.
 
Gelei, pois era só mato, a rodovia, e uma porteira que descia pra não sei aonde. E torci pro Pedro não querer me matar ou roubar. Qualquer coisa seria correr, e eu corro bem, e de nervoso comecei a rir sozinho, pois pensei em que direção eu correria se fosse necessário, e não adiantaria correr para o fim do mundo, pois eu já estava lá.


Mas o Pedro era legal, gente boa, e depois de conhecermos tudo perguntei pra ele como voltaríamos em direção de Listvianka, já que a van suicida se fora, e ele disse calmamente, “voltamos pra estrada e pedimos carona novamente”. Minha ultima carona pondo o dedão ao alto foi no morro do tiro de guerra em Lavras, vinte e cinco anos atrás, que ficava a cinquenta metros da minha casa.
 




Agora eu estava na beira da estrada esperando carona, na rodovia transiberiana. E a cagada continua, já que começou a chover e a temperatura que eu tinha visto no dia anterior que seria por volta de 19 a 24 graus, foi pro saco, e chegou perto de nove. A anta aqui estava de bermuda, levava protetor solar, uma cueca seca pra trocar se eu nadasse no lago e uma jaqueta fina da north face. Nunca vi um sujeito passar tanto frio por tanto tempo igual eu passei.

Enfim cheguei ao Lago Baikal, deixei de sentir frio, e comecei a realizar de forma lenta que eu estava lá. Coloquei a mão na água, estava congelante mesmo no verão, passei a água em minha cara, e bebi a água mais pura do lago mais antigo e mítico do mundo.


Na beira do lago, eu estava muito mal, gripe forte, fome, e fui comer o peixe que só existe aqui, chamado Omul, muito famoso, e comi com garoa na cabeça. Cachorros e gatos em volta, sentado e esgotado, com a mão engordurada comendo o peixe segurando com um saquinho que ele vinha embrulhado. Melhor peixe que já comi na minha vida, ele parece um Haddock, só que defumado e carne branca e um cheiro que você lembra por muito tempo. Comer peixe gripado e molhado com animais em volta é muito bom. Inesquecível!



Tinha que voltar, portanto, pegar carona novamente, e o Pedro não iria, já que ele dormiria por lá pra viajar no dia seguinte pro norte do lago. Sozinho de novo.



Foda mesmo é entrar na van com russos, sem falar russo, e dizer em russo, e isso eu fiz: - OI, IRKUTSKY POR FAVOR (привет пожалуйста, Иркутский), e deu certo, depois de 2 horas cortando prego, com medo de bater, capotar, cheguei a Irkutsky novamente. Por favor evitem andar de carro com russos. Geralmente estão bêbados.

E antes de me despedir do Pedro, perguntei se ficar parado na estrada era perigoso, ele disse que não, mas disse que não é muito raro ver ursos pardos aqui, e que não adianta correr deles. E lembrei que ursos com fome comem gente. Mas deu certo, eu finalmente realizei meu sonho e conheci o Lago. 




Antes do carnaval já posto o 5o. e último capitulo desta aventura que ficará pra sempre na minha memória.. 

Stenio
 


 

Um comentário:

  1. Para quem tinha medo da cuca do sítio do pica pau amarelo, vc evoluiu bastante! Mas prefiro a cuca do que seu amigo ai, eu ia ajudar a te procurar, pode ficar tranquilo!

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